Thursday, May 3, 2007

Reformas e restauros em ação no centro de Sao Paulo

Revista URBS

Reformas e restauros em ação
(Por Federico Mengozzi)

Obras restauradas, adaptadas ou construídas mostram que a região central está viva e que esbanja dinamismo. O abandono cede lugar a investimentos públicos e privados, que estão recuperando edifícios, requalificando-os ou erguendo novas instalações


Os exemplos são vários. A fachada da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo foi restaurada e revela, em vez da cor indefinida – cor de poluição – um tom bem claro de cinza. A Universidade Estadual Paulista (Unesp) comprou um prédio de 12 andares e se prepara para inaugurar sua nova reitoria na Rua Quirino de Andrade. A Estação da Luz da Nossa Língua será inaugurada até dezembro e formará com a Pinacoteca do Estado e a Sala São Paulo um dos principais pólos culturais da cidade.

Há muito, a Faculdade de Direito, desde 1828 instalada no Largo de São Francisco – a ponto de se apropriar do nome do logradouro – pedia um restauro. A Universidade de São Paulo empenhou-se e aceitou o desafio, que foi feito de cima para baixo, pois os pináculos estavam caindo. Sem os andaimes e as telas de proteção, a fachada mostra um desconhecido cinza-claro e o Pátio das Arcadas, um dos pontos remanescentes do prédio original, está renovado. Segundo o diretor da Faculdade, Eduardo César Silveira Vita Marchi, que faz parte do novo Conselho Diretor da Associação Viva o Centro, as Arcadas, que sobreviveram às provas do tempo – passando por manifestações, incêndios, revoluções – agora estão renovadas e continuam a simbolizar a "luta pela liberdade, pela democracia e pelos direitos dos cidadãos". Acredita-se que o restauro contaminará, no melhor sentido do termo, os prédios adjacentes, como, num dos extremos do largo, a Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, com sua elegante arquitetura art nouveau de derivação austríaca.

Educação: área agitada

É justamente no campo da educação que o Centro apresenta mais novidades. Na Praça do Patriarca, a Fundação Armando Álvares Penteado reformou o edifício Lutetia, dos anos 20, e começa a empreender a Residência Artística – Faap, inspirando-se na Cité Internationale des Arts, de Paris, na qual artistas de todo o mundo permanecem por um tempo determinado para aprimorarem seus trabalhos em um ambiente de intercâmbio cultural. O edifício tem oito pavimentos, além de térreo e subsolo. A fachada foi preservada e o interior remodelado com novos sistemas elétricos, hidráulicos e de ar-condicionado, redes de cabeamento de lógica e telefonia, instalando-se dez lofts, dois por andar, mais salas de exposições, lounge e livraria (veja matéria completa na edição 37). A primeira artista, a escultora francesa Rachel Poignant, já se instalou no edifício e ficará por aqui, vivendo e trabalhando, até o final do ano. Para 2006, já há duas residências fechadas para a permanência de três a seis meses. Para Marcos Moraes, coordenador do curso de Artes Plásticas da Faap, o projeto está na fase experimental e sua implantação será gradativa. "Estamos inaugurando um conceito novo, que certamente contribuirá, ao trazer artistas de várias áreas, para a requalificação do Centro."

Por sua vez, o campus da tradicional Universidade Mackenzie, no Centro expandido, passa por uma ampliação e está ganhando, no complexo da Consolação, um edifício de nove andares para abrigar até 4,5 mil alunos.

Perto da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, na Rua Quirino de Andrade, a Unesp instala, a partir do próximo ano, sua nova reitoria. O prédio de 12 pavimentos, com 7.816 metros quadrados de área construída, erguido nos anos 60, foi comprado do Banco Itaú por R$ 6,7 milhões, a serem pagos em cinco anos. Com o equivalente a pouco mais de dois anos de aluguel gastos para locar sua sede atual, na região da Avenida Paulista, ou R$ 3 milhões por ano, a Unesp se livra desse ônus e conta com um edifício de sua propriedade, podendo investir em sua razão de ser: ensino e pesquisa. O prédio, afirma o reitor Marcos Macari, é o ponto de partida para a organização de seu próprio campus em São Paulo. A Unesp já possui um braço instalado na área central, em plena Praça da Sé: a Universidade do Livro, para estudos sobre a edição de livros, e o Centro de Documentação e Memória, para preservar documentos próprios ou ligados à história sócio-política contemporânea do Brasil.

Cultura em expansão

A Estação da Luz da Nossa Língua é outra iniciativa, mas ligada à cultura. Assim que estiver em ação terá como objetivo preservar, ao mesmo tempo, a língua portuguesa e a arquitetura vitoriana de um dos marcos mais importantes da cidade: a centenária Estação da Luz, testemunha da época áurea da cultura cafeeira e da saga da imigração que fez de São Paulo uma das maiores metrópoles do mundo. Os trabalhos de restauro da estação começaram em maio de 2003, devolvendo-lhe a aparência de meados da década de 40, antes do incêndio que a descaracterizou. Da cobertura às esquadrias, com um apuro técnico que chegou à análise da composição das argamassas usadas, tudo sofreu intervenção, inclusive o relógio que, por décadas, marcou a hora oficial da cidade. Hoje, a estação surge toda em amarelo. Para definir a cor, várias prospecções foram feitas, estudando-se as camadas de tinta originais – experts referendaram a escolha, que é valorizada com a iluminação noturna.

Se não houver contratempos, a Estação da Luz da Nossa Língua, que ocupará três pavimentos do prédio, sem interferir nas atividades de transporte do complexo, será inaugurada até dezembro. O que se quer é criar um centro de referência, preservação e celebração da língua portuguesa, que é, vale ressaltar, falada nos cinco continentes. Para o poeta e antropólogo Antonio Risério, um dos mentores do novo espaço, o primeiro museu de idioma do mundo será o "parque de diversões da língua portuguesa", já que se valerá de toda tecnologia existente, multimídia e suportes audiovisuais, mantendo sala de capacitação para professores e de consultas, promovendo atividades como exposições e palestras. De certa forma, a Biblioteca Municipal Mário de Andrade tem uma preocupação afim e sua reforma, incluindo uma ampliação que promete expandir seus 11 mil para 16 mil metros quadrados, está para sair. Esse será um dos projetos beneficiados pelo financiamento que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) destina para o Centro.

Outra reforma e restauro em curso é a do Masp-Centro, na Galeria Prestes Maia, que liga a Praça do Patriarca ao Vale do Anhangabaú. Até o final do ano, essa extensão do Museu de Arte de São Paulo, que também abriga a sede do Instituto Brasil de Arte e Moda, estará funcionando, prevê o administrador do espaço, Celso Vieira. Os trabalhos, efetuados num imóvel tombado, constaram, entre outros itens, da readequação do espaço, restauro de piso e paredes em mármore, instalação de elevadores para deficientes físicos e carga, instalação elétrica e hidráulica, equipamentos de segurança, sistema de ar-condicionado etc. O relógio da galeria voltou a funcionar. "O espaço estava sem condições. Havia vazamentos. Não servia para a atividade museológica", diz Vieira. A prioridade do equipamento cultural será a arte brasileira – os artistas já estão procurando o espaço para expor. Já o Instituto Brasil de Arte e Moda será inteiramente dedicado ao desenvolvimento do setor, enfocando criação, gestão, marketing e tecnologia, com aulas, exposições, eventos etc.

"Após as reformas", garante Vieira, "o Masp-Centro promoverá grandes exposições e será um dos points culturais da cidade." A promessa não é nova, mas a torcida é grande.

Novos órgãos jurídicos

Dois órgãos públicos, o Tribunal de Justiça de São Paulo e o Tribunal Regional Eleitoral, também têm obras à vista. O primeiro assinou um pré-contrato de locação de um prédio de 25 andares em construção na Rua Conde de Sarzedas, próxima à Praça da Sé, e, assim que tudo estiver pronto, para lá serão transferidos alguns dos gabinetes de desembargadores que ocupam atualmente um edifício na Avenida Paulista. Já o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) comprou um edifício de 15 andares na Rua Dr. Falcão Filho, em frente à nova Prefeitura, e ali pretende, depois que o prédio, inacabado, passar por uma reforma, instalar seções que a sede da Rua Francisca Miquelina já não comporta.

Da mesma forma, instituições bancárias se expandem na área central. Recentemente, a Caixa Econômica Federal inaugurou agências nas ruas Direita, Líbero Badaró e Álvares Penteado. O Banco do Brasil também ampliou seu número de agências no Centro. Em 2004, foram inauguradas cinco agências: Rua General Osório, Praça Dr. João Mendes, Edifício Itália, Praça do Patriarca e Galeria Olido. Este ano, mais duas: Rua das Palmeiras e Rua Anhaia. Hoje, existem 21 agências do Banco do Brasil na região – a mais antiga foi aberta em 1917.

A Prefeitura promete ainda, assim que tiver os recursos liberados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o início das obras de recuperação das praças da Sé, República e Coronel Fernando Prestes. Quem gosta de novidade deve ficar atento à área central. A região, que ontem era sinônimo de estagnação, hoje significa o oposto. E que oposto!>

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